sábado, 24 de novembro de 2007

Projecto _Jean Luc Godard _ ex1





Análise do excerto de Jean-Luc Godard

O fragmento retirado de "Liberté et patrie" constitui uma reflexão à volta dos conceitos realidade, percepção, interpretação.
A palavra "pensar" é lançada como ponto de partida para discussão dos termos anteriores numa alusão ao 11 de Setembro como acontecimento incapaz de ser pensado pela surpresa que suscitou. Um momento que coloca em causa o conceito de pensamento e a enerência da própria racionalidade/irracionalidade humana.
A palavra pensar não tem um significado homogéneo, varia ao longo da matriz dos sujeitos, o mesmo acontecendo com a palavra "pátria" que Godard insere no mesmo grupo de subjectividade. Ao fazer surgir na tela as palavras "et patrie" em simutâneo com a formulação da subjectividade do pensamento, a voz narradora autoriza o espectador a aplicar a mesma conclusão ao conceito “pátria”, indiciando um princípio de heterogeneidade e alteridade que coloca em causa o carácter homogéneo e uno que se associa normalmente a “pátria”, enquanto todo unificante. Poderemos ainda detectar aqui uma pista de reflexão sobre a legitimidade da existência da unidade “pátria”, e das derivas radicalistas que ela pode suscitar – remissão eventual para as causas nacionalistas na origem do 11 de Setembro. Um facto que é passivel de diferentes interpretações.
A tentativa de imposição de um pensamento único, (padrão de valores universal) sobre uma massa heterogénea, isto é conjunto de indivíduos com percepção subjectiva e diversa entre si, constitui uma violência real e uma ameaça à perda da individualidade: esse é o perigo que nos colocam hoje as super -potências, justifica-se assim, a exibição da bandeira norte americana no início do documentário.
Esta contrariedade intríseca do nosso mundo situa-se nos antipodas de uma atitude tolerante face à pluralidade das interpretações individuais e à admissão da validade das representações que cada um faz.
Nos exemplos apontados por Godard é vincada a primasia da interpretação sobre o objecto. Ou seja, conferir uma mais valia ao interior do sujeito humano e das interpretações que ele faz dos objectos . É olhar do sujeito que recorta o mundo que ele mesmo vê. A interpretação está condicionada pelo campo do pensamento do sujeito e dos preconceitos que determinam aquilo que ele quer ver. Cintando Todorov, poderíamos sugerir que"...o processo de leitura tem as suas conseqências: nunca são idênticas duas leituras de um livro. Quando lemos, traçamos uma escrita passiva; juntamos e suprimimos no texto lido aquilo que aí queremos ou não encontrar; a leitura deixa de ser imanente a partir do momento em que há um leitor". Por outras palavras, o sujeito molda a realidade e dela retira ou constrói uma segunda imagem.
A construção de uma narrativa de três minutos como resposta a estas ideias centrou-se no facto de tentar propor uma dupla leitura do objecto apresentado. O recurso ao texto como meio de opor duas ideias que vão de encontro aos dois exemplos presentes no documentário. O texto da esquerda tem ligações com o primeiro exemplo por nos dar indicações a uma interpretação técnico-científica, por isso mais objectiva. O texto mais à direita traduz o carácter mais simbólico do objecto por isso o associamos ao segundo exemplo de Godard "fermé les yeux", de maior subjectividade em que tudo é válido para cada sujeito.
A justaposição de dois discursos tão diferentes, por movimento contrário só nos permite acompanhar uma das sugestões de interpretação. Em cada um deles, as palavras destacadas levam-nos para outros universos de representações.
O texto tem assim, a intenção de condicionar a leitura. Não é com isso pretendida uma interpretação universal, absoluta do objecto, mas o apontar para a construção de trajectos de associação similares.

Grupo de trabalho_ Lara, Luísa, Verónica

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