sexta-feira, 23 de maio de 2008

Vestígios

















































Vestígio - do Latim vestigiu. Singular Masculino. Significa rasto; pegada; sinal que o homem ou animal faz com os pés no lugar por onde passa; marca; indício. No plural: restos visíveis; resquícios.
Dicionário da Língua Portuguesa Priberam


U m olhar atento é capaz de perceber que vestígios são muito mais complexos do que a definição de um dicionário. Um vestígio pode ser poético, nostálgico, incriminador, nojento. Uma coisa de cada vez ou tudo ao mesmo tempo. Ele pode ser invisível aos olhos menos atentos ou gritante aos olhos sensíveis. Pode contar histórias ou ser contado por elas. O que o vestígio representa?

Neste projecto, procuramos evidenciar o tempo em movimento através da captação de imagens de vestígios. Indícios criados pela acção do tempo sobre superfícies e objectos anônimos, quase invisíveis, que se relacionaram com o tempo e com o espaço por um longo período até serem transformados e/ou imortalizados em marcas perenes, capazes de serem percebidas por nós, marcas difíceis de serem apagadas, marcas incontestáveis de sua presença e do tempo em movimento.

Podemos identificar, nalgumas imagens captadas, uma certa semelhança ao trabalho da escultora inglesa Rachel Whiteread. Esta artista trabalha evidênciando o espaço no qual nos movemos e não nos apercebemos. A escultora revela assim o chamado “espaço negativo” dos objectos. Esse espaço é a massa invisível que preenche interna e externamente o corpo sólido do objecto; o interior de um armário, o vazio debaixo de uma cadeira, mesa ou de uma escada, por exemplo. Whiteread materializa o que não se vê; torna vivo o vazio de cada objecto. A artista utiliza objectos do nosso quotidiano, quase invisíveis aos nossos olhos por serem tão presentes na nossa vida.

Neste trabalho o espaço negativo é revelado pelas marcas da acção do tempo nos objectos. Assim, podemos considerar alguns vestígios como negativos de objectos, criados não por alguém, mas pela própria acção do tempo. A impressão de um tapete sobre o chão é um negativo criado pelo tempo e pela interacção do trinómio objecto/tempo/espaço.

Este projecto dá visibilidade a elementos até então invisíveis, banais, presentes mas ignorados no dia-a-dia por cada um de nós. Algumas marcas são facilmente identificadas pela fotografia, outras mostram-se como incógnitas difíceis de serem identificadas por olhos menos treinados a perceber os vestígios quotidianos.

Algumas imagens deste projecto revelam não tanto o espaço negativo, mas demonstram o tempo a actuar, criando um “espaço positivo”. A acção de microorganismos, de humidade, de elementos que denotam a existência da linha do tempo em movimento. O que temos aqui são objectos e superficies talvez indiferentes, inexpressivas, comuns, que servem de palco para captar o retrato invisível da acção do tempo alterando e/ou perenizando imagens.

Referências:

http://www.tate.org.uk/britain/turnerprize/history/whiteread.htm
http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx









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